Resenha: CONDEMI,
Silvana; SAVATIER, François. Neandertal,
nosso irmão: Uma breve história do homem. 1. ed. São Paulo: Vestígio, 2018.
NEANDERTAL: O PARENTE DISTANTE DO HOMO SAPIENS
Hermes Moacir Vargas Sampaio
Sobre os autores, Silvana Condemi é
francesa, Paleantóloga, especialista em estudos sobre neandertais na
Universidade de Axi-Marseille, além de professora e pesquisadora no Centro
Nacional de Pesquisa Científica da França, publicou inúmeros materiais
científicos sobre o assunto, entre eles livros e artigos. O coautor François
Savaterier é um jornalista científico francês, escreve sobre arqueologia,
física e geociências, é editor da revista Pour
la Science desde 1986, também é responsável pela seção A lire - ler. Tudo iniciou em uma conversa entre Condemi e
Savaterier no café Madame - Paris, no qual nasce a ideia de escrever sobre “Neandertal,
nosso irmão: uma breve história do homem”.
A obra começa seu primeiro capítulo
falando sobre o uso das novas tecnologias nos estudos antropológicos, como a
observação do desenvolvimento de espécies por meio do estudo do DNA Nuclear, no
qual observou que 1 a 4% dos habitantes da Eurásia carregam genes do parente do
Norte, o neandertal. Relatam que, com a aplicação da cronologia isotópica, o MIS-estágio
isotópico marinho, foi possível identificar o meio e habitat no qual os neandertais
viveram, algo em torno de 400.000 anos revistos, assim como novas descobertas
de jazidas fossilíferas, importantes para a pesquisa de campo.
No segundo capítulo os autores demonstram
acreditar que o neandertal era eminentemente europeu e teve como ancestral o Homo Heidelbergensis há cerca de 600.000
anos, e, que tiveram rotas migratórias, sendo encontrado fósseis nas planícies Russas,
Ásia Central e Oriente próximo, sempre partindo da Europa, seguindo o fluxo dos
períodos glaciais, dos quais passavam por invernos severos.
Conforme relatam no terceiro e quarto capítulo
da obra, graças a utilização de novas técnicas de investigação descobriu-se que
eram de pele branca, olhos claros e cabelos ruivos. Mãos fortes e dedos maiores.
Crânio alongado para trás e para frente, queixo recuado e testa em forma de
viseira. Caixa torácica em forma de barril (acomodava um fígado maior) e a
bacia mais longa (acomodar uma bexiga e um rim maior), pelo fato de precisarem
de mais energia, comiam mais e necessitavam eliminar maior número de toxinas,
oriundas dos alimentos consumidos. Possuíam uma musculatura privilegiada nos
braços (tinham um músculo à mais que nos Sapiens). Dentes fortes usados como
uma terceira mão, além de costelas reforçadas, clavícula e omoplata mais
largas. Eram baixos, entre 1,60 a 1,65, de pernas e braços curtos e fortes.
Tinham mais vasos sanguíneos nos ossos e na carne do rosto, ajudava em períodos
de frio severo. Os autores indicam que essas características lhes proporcionaram
suportar as ocasiões glaciais de estremo frio.
No quinto e sexto capítulo, apesar de não
haver consenso da comunidade científica, os autores apontam que os neandertais eram
bons caçadores. Inclusive utilizavam lanças com pontas afiadas e endurecidas ao
fogo e as vezes aproveitando partes de animais já mortos. Caçavam em grupos de
até 15 indivíduos e tinham predileção por animais grandes, mais gordos para
suprir uma exigência de 3000 a 7000 calorias diárias. No entanto, também comiam
vegetais. Através de estudos do tártaro depositados nos dentes pode-se afirmar
que comiam frutas e cereais cozidas já que dominavam o fogo, e estes eram cerca
de 20% de sua dieta.
A conclusão chegada pelos autores no
sétimo capítulo é de que, sua sobrevivência a este ambiente hostil se dava
principalmente ao seu constante deslocamento atrás de alimento e lugares
melhores para produzir ferramentas, até mesmo encontros com outros grupos, no
qual havia troca de gens. Conforme a
descoberta de seus costumes e características, os autores acreditam que eles
tinham uma visão tradicionalista e demonstravam ter um padrão na maneira de
viver, tinham certa organização e especialização, cada um com um papel
importante, foi que manteve este primata vivo por muito tempo, e, estima os
autores que talvez, essa característica pode ter influenciado em sua extinção.
No capítulo oito, “Uma vida cultural
complexa”, o estudo apresenta fortes evidências de que poderia ter havido o uso
de linguagem articulada. Anatomicamente
tinham condições de falar, apesar de não poder provar seu uso concreto. Sabe-se
que usavam ornamentos e tinturas. Até faziam funerais. Cuidavam uns dos outros
e interagiam com outros clãs, inclusive os Sapiens. Por enquanto, não foi
possível provar que houve, de fato, o uso da comunicação por meio da linguagem.
O nono capítulo relata a chegada do Homo
Sapiens na vida do Neandertal e sua aparente extinção. No estudo, os dados
indicam que o Homo Sapiens era mais adaptável a ambientes novos, cheio de
utensílios fabricados de ossos (ganchos, anzóis, arcos, brinquedos), sempre
inovando e evoluindo. Há também hipóteses de que possa ter acontecido conflitos
entre os clãs, talvez doenças trazidas pelo invasor, ou por meio da inversão
magnética provocada pela queda de um asteroide, o que teria tirado a proteção
dos raios ultravioleta. Os autores indicam que os Sapiens tinham a massa
cerebral maior, mas, salientam que, não significa que eram mais ou menos
inteligentes do que os Neandertais.
A abordagem exposta no décimo capítulo é
sobre a extinção do Neandertal, o qual passou por mestiçagem e cruzamento entre
as espécies, no qual, o Sapiens deteve maior vantagem. Mesmo sem o consenso da
comunidade científica, os especialistas acreditam que esse tenha sido o fator
impactante para a amortização dos Neandertais. Os autores relatam a incrível disposição
dos Sapiens em crescer em espaços e populações povoadas por outros indivíduos,
acarretando a ocupação de áreas já habitada por outros.
Por fim, os Neandertais se extinguiram e
ainda não se sabe ao certo o porquê, nem como ocorreu de fato. Várias hipóteses
são levantadas, como a chegada do Homo Sapiens em seu território, a dificuldade
de inovação e adaptação ao meio, ou devido ao baixo crescimento populacional. Para
os autores, o fato mais plausível é que tenha havido uma absorção da população Neandertal
a massa Sapiens. Eram mais numerosos e com técnicas novas de sobrevivência além
da domesticação de animais como o cão. O Homo Sapiens conseguia procriar com a
mulher Neandertal, o que não acontecia ao contrário (o que acarretava aborto).
No entanto, os autores não encontraram indicativos concretos de que esse tenha
sido um fator que os levou a extinção e predominância do Sapiens.
Temos muitas perguntas a serem respondidas
sobre nosso parente. Sobreviveu por muitos anos e simplesmente desapareceu,
deixando apenas rastros de seu DNA. O Sapiens ainda está vivo como nunca.
Absorvendo tudo o que pode e resistindo a evolução, até quando não se sabe.
A
obra é de cunho científica, pois apresenta dados e análises dos autores,
especialistas no assunto. Traz uma visão nova e interessante a respeito da
extinção do Homo Neandertal. De linguagem fácil, clara e objetiva é
recomendável a qualquer público interessado no assunto. Um bom livro para se
ler e refletir a respeito da evolução do homo.
Não
sou um escritor assíduo, tão pouco científico, sou um bom leitor e gosto de
escrever, refletir e estudar assuntos que me interessam. Gosto de história,
literatura, arte e música, escrever sobre esses assuntos é prazeroso pois já
estou ambientado com os temas e leituras sobre o assunto. Espero que a comissão
editorial possa considerar uma possível publicação deste autor desconhecido na
academia, diria que sou um autodidata.
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