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segunda-feira, 29 de abril de 2013

Resumo do Livro: Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia.


Por: Juliana Fachin

Resenha do Livro:

DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Mil platôs: capitalismo e esquizofrenia.  São Paulo: Ed. 34, v.1, 1995.  


Conforme Deleuze e Guattari (1995) os rizomas não têm início nem fim, eles se encontram, conectam entre si; estar na estrutura rizomática e fazer parte, é o elo, a aliança mais importante de ligação dessa estrutura, seguindo uma linha de evolução. 


Não existem pontos ou posições num rizoma como se encontra numa estrutura, em numa árvore, numa raiz. Existem somente linhas. [...] Todo rizoma compreende linhas de segmentaridade segundo as quais ele é estratificado, territorializado, organizado, significado, atribuído etc. (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 16-17).

 

O significado de sua existência e sua evolução está na ligação que tem com as coisas, no meio em que se encontra conectado, com o objeto de relação.  Deleuze e Guattari explicam a relação entre o significado e significante:

Não há diferença entre aquilo de que um livro fala e a maneira como é feito. Um livro tampouco tem objeto. Considerado como agenciamento, ele está somente em conexão com outros agenciamentos, em relação com outros corpos sem órgãos. Não se perguntará nunca o que um livro quer dizer, significado ou significante, não se buscará nada compreender num livro, perguntar-se-á com o que ele funciona, em conexão com o que ele faz ou não passar intensidades, em que multiplicidades ele se introduz e metamorfoseia a sua, com que corpos sem órgãos ele faz convergir o seu. (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p.11).


Essa questão da necessidade do significado das funções das coisas, destacando que, o que realmente importa é a conexão que estas coisas fazem com outros elementos que podem ser do mesmo gênero, espécie ou não.

Deleuze e Guattari explicam que até mesmo animais são rizomas, plantas, raízes, matilhas, não só na forma, mas também, na conduta como vivem em seu habitat, deslocamento, função e organização, indicando que um “rizoma tem formas muito diversas” (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 14).

Os autores apresentam características “aproximativas” de um rizoma, com base em seis princípios.

1º e 2º princípio é a heterogeneidade: indica que, qualquer parte “ponto” de um rizoma pode ser conectado a qualquer outro, não fixando um ponto em apenas um local, mas todos são diferentes com características diferentes.

3º trata do princípio da multiplicidade: não tem relação com sujeito ou objeto, mas tem “determinação, grandeza, dimensões”, conforme crescem mudam de natureza, com a multiplicidade surge às leis da combinação. “As multiplicidades se definem pelo fora: pela linha abstrata, linha de fuga ou de desterritorialização segundo a qual elas mudam de natureza ao se conectarem às outras” (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 16). Como a questão das combinações genéticas de uma tribo, em que gerações próximas não se relacionam para preservar a multiplicidade, intuitivamente inibindo a consanguinidade.

4º O princípio de ruptura: a-significante, um rizoma pode sofrer uma ruptura a qualquer momento separando ou atravessando estruturas. “Um rizoma pode ser rompido, quebrado em um lugar qualquer” (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 17).  Podendo retomar algumas linhas, como se fosse impossível exterminá-lo (exemplo do formigueiro, em que o extermínio de algumas formigas não extingue a formação e reconstituição de todo o formigueiro).

“Nó:, fazemos rizoma com nossos vírus, ou antes, nossos vírus nos fazem fazer rizoma com outros animais” (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 18).  O exemplo é a transferência genética entre espécies iguais e diferentes, dados genéticos são transmitidos e modificados, causando uma ligação entre espécies diferentes. Seria o caso dos vírus derivados de animais e transmitidos de um humano para outros; um exemplo é a gripe derivada do suíno, de aves, nesses animais não causam grandes danos, mas pode ser altamente destrutivo nos humanos, criando um elo de relação, de troca de informação genética entre espécies diferentes. 

“Evoluímos e morremos devido as nossas gripes polimórficas e rizomáticas mais do que devido a nossas doenças de descendência ou que têm elas mesmas sua descendência. O rizoma é uma antigenealogia” (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 18/19).

5º e 6º Princípio de cartografia e decalcomania: um rizoma não se explica por nenhum modelo estrutural ou gerativo, ainda a qualquer ideia de eixo genético ou estrutura profunda. O rizoma compõe um mapa com os objetos e coisas que contribui para a ‘conexão’ de campos. “O mapa é aberto, é conectável em todas as suas dimensões, desmontável, reversível, suscetível de receber modificações constantemente” (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 21).

Um mapa se compõe na reconstituição, no desenho, adaptação, montagem de ‘qualquer natureza’, ele pode ser montado por um único indivíduo, grupo ou por uma sociedade ou parte dela, desenhando-o em paredes, obras de arte, ação política, ou como um gesto espiritual como a meditação. “Uma das características mais importantes do rizoma talvez seja a de ter sempre múltiplas entradas” (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 21).

As ligações rizomáticas conectadas a uma rede em que estados não definidos a-significante conectam com outros sem formação heterogênea, mas que tem sentido de existência em sua plenitude, significância sem significado definido ou padrão.

Um sistema a-centrado faz ligação coordenada e independente com uma instância central, multiplicando entre outros pontos de ligações da rede. O modelo descentralizador da multiplicidade de módulos, ramificações numerosas e independentes, carregando um mínimo de poder central e modulação hierárquica, tornando um sistema livre e sem barreiras, mas que pode sofrer rupturas no percorrer do seu caminho. “Árvores podem corresponder ao rizoma, ou, inversamente, germinar em rizoma” (DELEUZE; GUATTARI, 1995, p. 26/27), a relação entre si se baseia na conexão e troca.

Os autores citam modelos rizomáticos, dos quais, grupos aborígenes consistem na formação da sociedade humana. Os “índios sem ascendência, seu limite sempre fugidio, suas fronteiras movediças e deslocadas.”

A questão da existência no local, espaço, meio, um rizoma é livre, ele segue um caminho não definido, conectando-se com outros e outros, sempre criando elos não definidos, mas contínuos, com significado não significante de formas diferentes de multiplicar, se relacionar, faz a ligação arborescente na rede rizomática.

O rizoma é feito somente de linhas: linhas de segmentaridade, de estratificação, como dimensões, mas também linha de fuga ou de desterritorialização como dimensão máxima. [...] O rizoma procede por variação, expansão, conquista, captura, picada (DELEUZE; GUATTARI, 199, p. 31-32). 

Essas linhas seguem seu caminho sem objetivo de chegada, nem de partida, apenas de seguir em frente, deslocando-se por lugares, criando as redes de ligações, os mapas do percurso.

Um sistema rizomático pode ser algo complexo de se entender, porém é expressivo quanto a sua posição, característica na sociedade, um sistema constituído por rizomas (conforme interpretação do livro Mil platôs) contempla a ligação de todos os elementos vivos, natureza, ambiente etc. Esses laços e ligações remetem a função de cada um no mundo em que vivemos e como somos influenciados uns pelos outros, involuntariamente de forma a construir, traçar linhas, percursos no mapa da vida de forma rizomática! 



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5 comentários:

  1. Parabéns! Eu que sou um devorador do pensamento deleuzeano-guattariano seu resumo é ótimo para partilhar a noção de RIZOMA a alguém que nunca deparou com algo tão atual. Ah... se nossas aulas fossem filosofia de BUTECO.

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    1. eu iria adorar, por que estou fazendo literaturas e estou boiando nas aulas, por que os professores vão citando tantos filósofos, e outros autores que se eu fosse pesquisar cada escritor citado acho que me formaria uns trinta anos rsrs amei o resumo, sou a favor de vc postar mais sobre outros filósofos, assim fica bem mais didáticos, não é preguiça de pesquisar, mas é muito conteúdo para poucos meses..ABRAÇOS!

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  2. Toda produção e uma produção de antiproducao. Gostei do texto sou leitor de Deleuze. Tenho me agenciado com seu pensamento. Mas sobretudo me aproproado do rizoma por isso fui conhecer SPINOZA E ALGO MARAVILHOSO

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    1. Olá, não li nada de Spinoza ainda, poderia me indicar algumas publicações do autor sobre o tema?

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