IBSN: Blog Internet Número de série 303-406-587-9

terça-feira, 24 de julho de 2018

Interação humano-computador

BENYON, David. Interação humano-computador. 2 ed. Trad. Heloísa Coimbra de Souza. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011.


4º CAPÍTULO – USABILIDADE

O capítulo quatro do livro explora as funções e finalidades de um bom design, explicita exemplos e orientações didáticas para serem usadas em análises de projetos e idéias em diferentes contextos. 
As aplicações e finalidades da usabilidade com relação à interação do homem com o computador são específicas, podem variar conforme a necessidade e objetividade do projeto de design. “a usabilidade sempre foi a principal busca da interação humano-computador.” (BENYON, 2011, p. 48)
Um dos principais objetivos do designer são a “acessibilidade e a sustentabilidade”. Tornando sistemas interativos e fáceis de usar, de aprender, despertando em seus usuários maior interesse (de forma atrativa). Conforme Benyon (2011, p.48) “As metas de usabilidade de hoje são vistas, essencialmente, como preocupadas com a eficiência e a eficácia dos sistemas.” Em outras palavras, preocupa-se com um bom funcionamento e desempenho do sistema.
            Um design pode ter funções diferentes, apontadas pelo autor como três características distintas:
1º - Objetivo do designer de sistemas interativos é produzir sistemas e produtos que sejam acessíveis, usáveis, e social e economicamente aceitáveis.
2º - Objetivo do designer de sistemas interativos é produzir sistemas que possam ser aprendidos, que sejam eficazes e adaptáveis.
3º- Objetivo do designer de sistemas interativos é equilibrar os elementos PACT (pessoas; atividades que as pessoas querem realizar; contexto nos quais a interação acontece; tecnologias – hardware e software) com respeito a um domínio.
            Um sistema para ser usável deve ser útil e aplicável, por tanto a “[...] usabilidade refere-se à qualidade da interação em termos de parâmetros, como o tempo consumido na realização de tarefas, o número de erros cometidos e o tempo necessário para tornar um usuário competente.” (BENYON, 2011, p. 49)
            O diferencial de um bom projeto de design está em conseguir compreender as necessidades do homem (interação/máquina) e aplicá-las no projeto de forma clara e sucinta, visando ‘contentar’ seus usuários.

ACESSIBILIDADE
           
            O tema acessibilidade é algo importante na ergonomia, visa proporcionar oportunidades iguais para todos os tipos de usuários, preocupando-se com as diferenças e limitações das pessoas que se destina o projeto do sistema. “Com um número cada vez maior de usuários de computadores e tecnologias, os designer têm de se concentrar nas exigências que seus designs representam para a capacidade das pessoas. O designer tem de criar para idosos e crianças. [...] E também para pessoas com deficiências em ambientes comuns.” (BENYON, 2011, p. 50)
            Benyon (2011, p. 50) classificar o design que representa os diversos tipos de usuários como, “Designs para todos ou universal”, baseando-se em quatro qualificações:
· Diferenças nas habilidades não constituem uma condição especial de poucos, mas uma característica comum do ser humano e mudamos física e intelectual ao longo da vida.
· Se um design funciona bem para pessoas com deficiências, funciona melhor para todo mundo.
· A qualquer momento em nossa vida, a auto-estima, a identidade e o bem estar são profundamente afetados pela nossa capacidade de funcionar em nosso ambiente físico, com uma sensação de conforto, independência e controle.
· Usabilidade e estética são mutuamente compatíveis.

Acessibilidade tornou-se um diferencial em projetos de designs, podendo ser aplicável a todo público considerado como um fator de inclusão social e tecnológica, tornando o ambiente de fácil acesso para todos.

USABILIDADE

            Para obter usabilidade de um design, o projeto deve ser focado no humano, sendo fundamental para um bom desempenho do sistema a avaliação antes, durante e depois de sua aplicação.  Para Benyon (2011, p. 53) Um sistema com alto grau de usabilidade terá as seguintes características:
·         Será eficiente no sentido de que as pessoas poderão fazer coisas mediante uma quantidade adequada de esforços;
·         Será eficaz no sentido de que conterá as funções e o conteúdo de informações adequadas e organizadas de forma apropriada;
·         Será fácil aprender como fazer as coisas e será fácil lembrar como fazê-las após algum tempo;
·         Será seguro operar na variedade de contextos em que será usado;
·         Terá um alto grau de utilidade no sentido de que fará as coisas que as pessoas querem que sejam feitas.

Um estudo do publico usuário, das finalidades do sistema, são informações relevantes para desenvolver o projeto, definindo o perfil dos usuários e suas necessidades, combinando diferentes variações para atingir o objetivo. 

ACEITABILIDADE

            A aceitabilidade tenta introduzir as tecnologias na vida das pessoas, elaborando um objeto segundo estudos de desejos de usuário (ex. empresas fazem pesquisas para saber qual é o gosto do usuário para desenvolver um novo produto)
A Coca-Cola recentemente lançou uma pesquisa perguntando aos consumidores do refrigerante ‘fanta’ qual sabor para o novo refrigerante eles preferem morango ou maracujá, (como atrativo sorteiam 50 notebooks por dia). Esta é uma das novas estratégias das empresas para desenvolver produtos com certo grau de aceitabilidade provado pela pesquisa.
Benyon (2011, p 55) coloca o exemplo dos trens e aviões com restrições ao uso de aparelhos celulares, etc. “alguns trens têm vagões ‘silenciosos’, nos quais não se aceita o uso de celulares, e os cinemas lembram às pessoas que devem desligar os telefones antes que o filme comece.” A aceitabilidade está quando as pessoas aceitam as condições ou produtos sem deixar de consumir ou utilizar aquele serviço.

PRINCÍPIOS DO DESIGN

            Os princípios de designs podem ser amplos e envolvem diversas questões, e servem como orientação na criação e desenvolvimento de um sistema ou produto. Os princípios são reunidos em três categorias principais: capacidade de aprendizagem, efetividade e adaptabilidade, mas que são doze categorias específicas:

·         Visibilidade, procura tornar as coisas visíveis;
·         Consistência, padronizar a característica do design;
·         Familiaridade, usar terminologias e símbolos que seus usuários já conhecem;
·         Affordance, o design deve ser claro, representando para que ela sirve;
·         Navegação, o sistema deve dispor de suporte para que as pessoas possam navegar livremente nele;
·         Controle, os usuários devem saber quem está no controle, mas também podem ter o controle;
·         Retorno (feedback), retorne de forma rápida as ações do sistema para que as pessoas ‘saibam os efeitos que suas ações causaram’;
·         Recuperação, possibilitar a recuperação das ações de forma rápida e eficaz;
·         Restrições, restringir certas funções para que as pessoas não tentem fazer coisas indesejadas e por segurança;
·         Flexibilidade, proporcionar diversas maneiras de fazer as coisas, para atender a diferentes usuários;
·         Estilo, os designs devem ser elegantes e atrativos;
·         Sociabilidade, o sistema deve ser bem educado, amigável e também agradável

As doze características se complementam e tornam o projeto bem sucedido se assim for o objetivo do projeto, embora não seja necessária a aplicação de todos os princípios juntos, mas o uso deles leva o projeto a um padrão, uma qualidade, e como conseqüência a aceitabilidade do design.

Comentário:
O livro é muito interessante, didático e de fácil leitura, aborda aspectos importantes a considerar na elaboração de um projeto de design, como também questões para refletir sobre o uso de ferramentas e aplicativos. O livro leva o leitor a ter uma nova percepção sobre as coisas á sua volta, instiga e provoca reações participativas no que se refere aos produtos e sistemas, refletindo se poderia mudar algo ou melhorá-lo. Trás exemplos claros de aplicações de melhorias, quadros explicativos e exercícios para praticar os temas abordados. Indica leituras complementares em cada capítulo, como também enfatiza os pontos importantes do tema através de resumos.
A leitura é recomendada para todos os públicos que tem interesse em saber mais sobre a interação do homem com a máquina em suas especificidades.

Juliana Fachin     creativecommons

quarta-feira, 26 de julho de 2017

O que é publicação predatória?



Recebeu um e-mail recentemente encorajando você a publicar com um novo e emocionante jornal?
Antes de enviar seu manuscrito, leve alguns minutos para verificar esse periódico.
Editores predatórios abusam do modelo autor-pagamento de acesso aberto para seu próprio lucro. Esta indústria crescente está causando problemas para os acadêmicos. Este guia é projetado para ajudá-lo a navegar no mundo nefasto da publicação predatória.

Características dos Editores Predatórios

1. O jornal carrega taxas excessivas para publicação? Taxas excessivas aumentam as preocupações de conflito de interesses. Além disso, todas as taxas ou encargos associados à publicação devem ser esclarecidos para potenciais autores, mas os editores predatórios podem ocultar suas taxas ou taxas até depois de receber seu manuscrito.

2. A bolsa de estudos é revisada por pares? As revistas predatórias tendem a fornecer pouca ou nenhuma avaliação por pares ou supervisão editorial.

3. Os seus colegas foram publicados com o jornal? Caso contrário, pergunte ao redor para descobrir por que não.

4. O jornal está incluído em um índice respeitável, como MEDLINE, CINAHL ou psycINFO? Editores predatórios geralmente não são. Eles podem tentar distraí-lo ou confundi-lo listando um fator de impacto falso ou criando métricas falsas para classificar seu periódico.


5. O jornal descreve claramente o processo de publicação? Os periódicos legítimos tornam seu processo de publicação prontamente disponível. A Open Access Scholarly Publishers Association oferece Princípios de Transparência e Melhores Práticas em Publicação Acadêmica para ajudar os autores acadêmicos a navegar na publicação acadêmica.

Fonte: https://jefferson.libguides.com/c.php?g=250298&p=1666251

Criteria for Determining Predatory Open-Access Publishers


**For more information on predatory publishers, including lists of publishers and standalone journals that meet these criteria, please visit http://scholarlyoa.com

 By Jeffrey Beall
3rd edition / January 1, 2015

The criteria below are intended to provide a framework for analyzing scholarly open-access publishers and journals. The criteria recognize two documents published by the Committee on Publication Ethics (COPE):


Evaluating scholarly open-access publishers is a process that includes closely, cautiously, thoroughly, and at times skeptically examining the publisher's content, practices, and websites: contacting the publisher if necessary, reading statements from the publisher's authors about their experiences with the publisher, and determining whether the publisher commits any of the following practices (below) that are known to be committed by predatory publishers, examining any additional credible evidence about the publisher, compiling very important "back-channel" feedback from scholarly authors, and taking into account counter-feedback from the publishers themselves.
Some journals of course are "single titles." They publish independently of any multi-title publisher. In most cases, however, we evaluate journals that are part of a publisher's multi-title platform. This is very often described as a "fleet," a term meant to clarify that even a new publisher suddenly launches a large number of new journals, ranging from several dozen to hundreds of titles all at once.
The practices described below are meant to apply both to single-title independent journals and to publishers with or multiple or "fleet" journals in their portfolios.  

Editor and Staff

·         The publisher's owner is identified as the editor of each and every journal published by the organization.
·         No single individual is identified as any specific journal's editor.
·         The journal does not identify a formal editorial / review board.
·         No academic information is provided regarding the editor, editorial staff, and/or review board members (e.g., institutional affiliation).
·         Evidence exists showing that the editor and/or review board members do not possess academic expertise to reasonably qualify them to be publication gatekeepers in the journal's field.
·         Two or more journals have duplicate editorial boards (i.e., same editorial board for more than one journal).
·         The journals have an insufficient number of board members , (e.g., 2 or 3 members), have concocted editorial boards (made up names), name scholars on their editorial board without their knowledge or permission or have board members who are prominent researchers but exempt them from any contributions to the journal except the use of their names and/or photographs.
·         There is little or no geographical diversity among the editorial board members, especially for journals that claim to be international in scope or coverage.
·         The editorial board engages in gender bias (i.e., exclusion of any female members).

Business management

·         The publisher...
·         Demonstrates a lack of transparency in publishing operations.
·         Has no policies or practices for digital preservation, meaning that if the journal ceases operations, all of the content disappears from the internet.
·         Begins operations with a large fleet of journals, often using a common template to quickly create each journal's home page.
·         Provides insufficient information or hides information about author fees, offering to publish an author's paper and later sending an unanticipated "surprise" invoice.
·                    Does not allow search engines to crawl the published content, preventing the content from being indexed in academic indexes.
·                    Copy-proofs (locks) their PDFs, thus making it harder to check for plagiarism.

Integrity

·                    The name of a journal is incongruent with the journal's mission.
·                    The name of a journal does not adequately reflect its origin (e.g., a journal with the word "Canadian" or "Swiss" in its name when neither the publisher, editor, nor any purported institutional affiliate relates whatsoever to Canada or Switzerland).
·                    In its spam email or on its website, the publisher falsely claims one or more of its journals have actual (Thomson-Reuters) impact factors, or advertises impact factors assigned by fake "impact factor" services, or it uses some made up measure (e.g. view factor), feigning/claiming an exaggerated international standing.
·                    The publisher sends spam requests for peer reviews to scholars unqualified to review submitted manuscripts, in the sense that the specialties of the invited reviewers do not match the papers sent to them.
·                    The publisher falsely claims to have its content indexed in legitimate abstracting and indexing services or claims that its content is indexed in resources that are not abstracting and indexing services.
·                    The publisher dedicates insufficient resources to preventing and eliminating author misconduct, to the extent that the journal or journals suffer from repeated cases of plagiarism, self-plagiarism, image manipulation, and the like.
·                    The publisher asks the corresponding author for suggested reviewers and the publisher subsequently uses the suggested reviewers without sufficiently vetting their qualifications or authenticity. (This protocol also may allow authors to create faux online identities in order to review their own papers).
Other
·                    A predatory publisher may...
·                    Re-publish papers already published in other venues/outlets without providing appropriate credits.
·                    Use boastful language claiming to be a "leading publisher" even though the publisher may only be a startup or a novice organization.
·                    Operate in a Western country chiefly for the purpose of functioning as a vanity press for scholars in a developing country (e.g., utilizing a mail-drop address or PO box address in the United States, while actually operating from a developing country).
·                    Provide minimal or no copyediting or proofreading of submissions.
·                    Publish papers that are not academic at all, e.g. essays by laypeople, polemical editorials, or obvious pseudo-science.
·                    Have a "contact us" page that only includes a web form or an email address, and the publisher hides or does not reveal its location.

Poor journal standards / practice

·                    The following practices are considered to be reflective of poor journal standards and, while they do not equal predatory criteria, potential authors should give due consideration to these items prior to manuscript submissions:
·                    The publisher copies "authors guidelines" verbatim (or with minor editing) from other publishers.
·                    The publisher lists insufficient contact information, including contact information that does not clearly state the headquarters location or misrepresents the headquarters location (e.g., through the use of addresses that are actually mail drops).
·                    The publisher publishes journals that are excessively broad (e.g., Journal of Education) in order to attract more articles and gain more revenue from author fees.
·                    The publisher publishes journals that combine two or more fields not normally treated together (e.g., International Journal of Business, Humanities and Technology).
·                    The publisher charges authors for publishing but requires transfer of copyright and retains copyright on journal content. Or the publisher requires the copyright transfer upon submission of manuscript.
·                    The publisher has poorly maintained websites, including dead links, prominent misspellings and grammatical errors on the website.
·                    The publisher makes unauthorized use of licensed images on their website, taken from the open web, without permission or licensing from the copyright owners.
·                    The publisher engages in excessive use of spam email to solicit manuscripts or editorial board memberships.
·                    The publishers' officers use email addresses that end in .gmail.com, yahoo.com, or some other free email supplier.
·                    The publisher fails to state licensing policy information on articles or shows lack of understanding of well-known OA journal article licensing standards, or provides contradictory licensing information.
·                    The publisher lacks a published article retraction policy or retracts articles without a formal statement (stealth retractions); also the publisher does not publish corrections or clarifications and does not have a policy for these issues.
·                    The publisher does not use standard identifiers such as ISSNs or DOIs or uses them improperly.
·                    For the name of the publisher, the publisher uses names such as "Network," "Center," "Association," "Institute," and the like when it is only a solitary, proprietary operation and does not meet the definition of the term used or implied non-profit mission.
·                    The publisher has excessive, cluttered advertising on its site to the extent that it interferes with site navigation and content access.
·                    The publisher has no membership in industry associations and/or intentionally fails to follow industry standards.
·                    The publisher includes links to legitimate conferences and associations on its main website, as if to borrow from other organizations’ legitimacy, and emblazon the new publisher with the others' legacy value.
·                    The publisher displays prominent statements that promise rapid publication and/or unusually quick peer review.
·                    Evidence exists showing that the publisher does not really conduct a bona fide peer review.
·                    The publisher appears to focus exclusively on article processing fee procurement, while not providing services for readers, or on billing for fees, while abdicating any effort at vetting submissions.
·                    The publisher creates a publishing operation that demonstrates rapacious entrepreneurial behavior that rises to level of sheer greed. The individual might have business administration experience, and the site may even have business journals, but the owner seems oblivious to business ethics.
·                    The publisher or its journals are not listed in standard periodical directories or are not widely cataloged in library databases.
·                    The publisher copies or egregiously mimics journal titles from other publishers.
·                    The publisher includes text on its website that describes the open access movement and then foists the publisher as if the publisher is active in fulfilling the movement’s values and goals.
·                    None of the members of a particular journal's editorial board have ever published an article in the journal.
·                    There is little or no geographic diversity among the authors of articles in one or more of the publisher's journals, an indication the journal has become an easy outlet for authors from one country or region to get scholarly publications.
·                    The publisher has an optional "fast-track" fee-based service for expedited peer review which appears to provide assured publication with little or no vetting.

Acknowledgement: The author thanks Bill Cohen and Dr. Michael Firmin for their help on this and an earlier version of this document.



quinta-feira, 7 de abril de 2016

Infográfico sobre a evolução de fontes de informação.


ARAUJO, Nelma Camêlo; FACHIN, Juliana. Evolução das fontes de informação. BIBLOS, [S.l.], v. 29, n. 1, fev. 2016. ISSN 2236-7594. Disponível em: <http://www.seer.furg.br/biblos/article/view/5463>. Acesso em: 07 abr. 2016.


terça-feira, 10 de novembro de 2015

PROFESSOR & PESQUISA (1)

FONTE: https://docs.google.com/document/pub?id=1wWA6-GUDJJP9f3b0EXzlDKgOKzMZPcDndUgFdGBwjA4


Pedro Demo (2009)
Como dizem Lankshear & Knobel, ao analisarem a proposta do professor como pesquisador, trata-se de uma “idéia fortemente contestada” (2004:3). De fato, não só no mundo latino, mas igualmente em parte do mundo nórdico, ser professor é dar aula, tudo e só isso. Professor como mediador da transmissão de conhecimento é o perfil predominante no mundo todo, ainda que tradições nórdicas apontem para outra direção. Um divisor de águas sempre foi a visão de vida acadêmica que está por trás. Para certa visão de universidade, não pode existir “universidade de ensino”, porque ensino é função derivada: quem não pesquisa, não tem o que ensinar. Segue que o fundamento da vida acadêmica é autoria, não ensino. Por isso, sugeri que “ser professor é cuidar que o aluno aprenda” (Demo, 2004), sendo aula apenas expediente secundário e supletivo. Na prática, porém, grande parte de nossos docentes na escola se sentiria perplexa se lhe colocássemos a exigência de autoria. Herdeiros da tradição instrucionista (“aprenderam” apenas escutando aula, de professores sem produção própria), internalizaram este procedimento escolar que faz coincidir aprendizagem com freqüência à aula. Mesmo em países como nos Estados Unidos, um dos próceres mais destacados da “sociedade de conhecimento” (Castells, 1997), o que caracteriza a função docente é dar aula, não importando autoria docente, e, por conseqüência, não importando autoria discente, valendo isso igualmente para a grande maioria das “universidades” (Duderstadt, 2003). No mundo latino é regra, com poucas exceções: jamais a pesquisa tomou o lugar principal da academia, muito embora existam programas, como no CNPq, de fomento à pesquisa entre docentes. É tamanha esta “fé” que faculdades isoladas e centros universitários, amparados por legislação arcaica, não têm compromisso com pesquisa; apenas com ensino. É ampla a convicção de que pesquisa começa no mestrado, sob o rótulo constante de que seria atividade “especial” (ou estranha), não comum. Retomo aqui o argumento que tenho explorado há mais de 20 anos em torno da vinculação necessária e proveitosa entre docência e pesquisa (Demo, 1996), desdobrando-o num contexto mais amplo e atualizado.

I. HÁ MENOS CONTROVÉRSIA DO QUE ATRASO

Embora toda proposta acadêmica seja, por sua natureza metodológica, discutível - não haveria como estabelecer proposições finais, a não ser sob o manto do dogmatismo ou fundamentalismo (Demo, 2008) -, é importante distinguir entre algo que seja discutível por conta de seus méritos acadêmicos, ou por falta deles. Por exemplo, tomando em conta a proposta de Popper (1959; 1967) da “falsificabilidade” das teorias (Demo, 1995), temos aí um caso. Primeiro, foi um susto na academia que um “positivista” sugerisse tal posição, afastando a expectativa de que seria viável “verificar” teorias. Elas podem apenas ser “corroboradas”, e provisoriamente, enquanto não forem contraditadas por casos concretos negativos. Segundo, isto não tornou esta proposta menos adequada metodologicamente falando. Ao contrário, embora muito pouco seguida na prática (positivistas e empiristas continuam abusando da indução sem peias) (Besson, 2005), é charme maior de Popper, instalando no edifício positivista uma discussão proveitosa e aberta. Seu argumento foi tipicamente de cunho lógico: todo conceito está plantado em pressupostos que não conseguimos elucidar até ao fim, também conceitos empíricos. Não há, pois, “evidência empírica”, a não ser interpretações empiricamente referenciadas[1].
No caso do docente pesquisador, a discussão encobre não apenas discordâncias sempre pertinentes a um tipo de formulação aberta, mas principalmente resistências de duas ordens mais contundentes: i) num lado, estão os que rejeitam a idéia, porque não sabem, não querem assumir o compromisso da pesquisa, que, ademais, daria ainda mais trabalho; ii) noutro, estão os que aproveitam da idéia apenas algumas fímbrias, em especial uma prática muito amadora de pesquisa. Apesar da contestação, Lankshear & Knobel (2004:4) observam três pontos de acordo: i) pesquisa docente não seria quantitativa, afastando, em geral, envolvimento com procedimentos metodológicos de mensuração e formalização da realidade; ii) a pesquisa docente volta-se para os próprios docentes e seus desafios, em especial sua prática escolar; iii) a pesquisa docente teria como propósito maior dois lances: aprimorar o senso profissional docente, à medida que a prática se baseie em produção de conhecimento crítico, e melhorar a qualidade docente como tal, em especial a aprendizagem dos alunos.
A perspectiva central seria a do aprimoramento profissional, levando-se em conta que pesquisa faculta conhecer melhor as condições da docência, em especial quando vinculada ao um estilo mais crítico de desconstrução e reconstrução da práxis docente. Não cabe ao docente encerrar-se em práticas repetitivas, prescritivas, baseadas em fórmulas prontas, bem como apenas cumprir normas curriculares expedidas por grupos técnicos. Uma segunda perspectiva apareceria no intuito de aprimorar o ensino, expectativa já mais que contestável no contexto atual, porque a noção mais correta seria “superar” a cultura do ensino, tendencialmente instrucionista. De fato, pesquisar para aprimorar o ensino soa como usar as tecnologias mais novas para enfeitar a mesma velha aula (Demo, 2009). A pesquisa, aqui, em vez de apresentar-se como desconstrução/reconstrução crítica, mantém-se confirmadora do status quo: saber mais para deixar ainda mais tudo como está.
No entanto, em especial Kincheloe (2003) fez esforço notável na direção de vincular a pesquisa com propósitos mais disruptivos, particularmente o de romper com o tecnicismo curricular e o cientificismo acadêmico. Por não serem ambos “democráticos”, subvertem a chance de uma escola democrática, comprometida com os marginalizados. Esta visão lembra lances da “pesquisa participante” (Demo, 2004) que busca, entre outras coisas, colocar conhecimento de qualidade ao alcance dos oprimidos. Uma linha interessante de argumentação é que, se a escola se comprometer com propósitos críticos e avaliativos da educação, não pode ser apenas executora de ordens externas. Ela mesma precisa fazer-se sujeito de causa própria. Na interpretação de Lankshear e Knobel, esta visão de Kincheloe, ao fomentar a cultura alternativa do docente pesquisador, facultaria ao docente: “i) começar a entender as implicações do poder dos padrões técnicos; ii) apreciar os benefícios da pesquisa, particularmente em relação a entender as forças que moldam educação e que caem fora da experiência imediata docente e sua percepção; iii) começar a entender em modos mais profundos e ricos o que sabem da experiência; iv) tornar-se mais cônscios de como podem contribuir para pesquisa educacional; iv) ser vistos como trabalhadores do conhecimento que reflexionam sobre suas necessidades profissionais e correntes entendimentos; v) tornar-se mais cônscios de quão complexo é o processo escolar e como pode ser entendido a partir dos contextos sociais, históricos, filosóficos, culturais, econômicos, políticos e psicológicos que o moldam; vi) pesquisar sua própria prática profissional; vii) explorar os processos de aprendizagem ocorrendo nas salas de aula e tentar interpretá-los; viii) analisar e contemplar o poder de cada idéia do outro; ix) constituir uma nova cultura da escola à maneira de um ‘think tank[2] formativo para os estudantes; x) reverter a tendência rumo à desqualificação (deskilling) de professores e à imbecilização dos estudantes” (2004:6).
Lankshear e Knobel (2004) oferecem, então, sua própria crítica à pesquisa docente como vem sendo entendida, em especial quanto aos três pontos de acordo. Primeiro, postam-se contra a exclusividade qualitativa da pesquisa docente, por mais que os argumentos possam ser pertinentes, como aqueles contra o cientificismo positivista e o tecnicismo de expertises impostas. Esta crítica é hoje amplamente aceita, já que dicotomia entre o quantitativo e o qualitativo não se sustenta (Demo, 2001). Sendo a natureza, não só a sociedade, feita de quantidades e qualidades (Prigogine & Stengers, 1991), pode-se acentuar umas ou ouras, mas não dicotomicamente, conforme o objeto eventual de pesquisa (Tashakkori & Teddlie, 1998; 2002. Creswell, 2002. LeCompte et alii, 1992. Turato, 2003). Na prática, verifica-se facilmente que a pesquisa quantitativa continua sendo a mais produtiva e acatada, apesar de todas as críticas que se lhe possam endereçar (Demo, 2006). Esta constatação não é “argumento” propriamente, porque não passa de “argumento de autoridade”, mas não se escapa de observar que esta ainda é a “autoridade” da pesquisa. Assim, em vez de apenas contestar a pesquisa quantitativa, os pesquisadores qualitativos fariam melhor em também aprender daquilo que tanto contestam.
Segundo, Lankshear e Knobel criticam que a pesquisa docente se encerre apenas na sala de aula ou nas coisas do docente. A busca sadia de autonomia do docente que gostaria de andar com pernas próprias não pode confundir-se com isolamento e agressividade (Demo, 2005) que, ademais, apenas prejudicariam ainda mais o espírito crítico. É certamente justo que o docente assuma suas condições de vida e trabalho como objeto preferencial de sua pesquisa, mas não único. Segundo Gee (2003), pessoas que formulam discursos multiculturais e multimodais seriam mais capazes de crítica e autocrítica, algo que se tem tornado mais claro em plataformas virtuais da web 2.0, em especial nos videogames (Demo, 2009): por conta da interatividade “igualitária” entre os participantes, o argumento de autoridade é evitado em nome da autoridade do argumento (Demo, 2005a). Discurso fechado é sempre conservador, porque, em vez de desconstruir/reconstruir outros discursos, os expele, para reinar sozinho e já sem autocrítica. Um exemplo constante: a recusa ainda comum das novas tecnologias no campo da aprendizagem escolar acaba mantendo o “ensino” como peça obsoleta. Ademais, a crítica à academia positivista e cientificista não pode levar a afastar-se pura e simplesmente da pesquisa tradicional.
Tendo colocado esses dois reparos, Lankshear e Knobel voltam-se para seu ponto central: pesquisa docente como aprimoramento profissional, no sentido mais comum desta acepção. Trata-se de estar bem informado, saber analisar com profundidade, testar teorias e seus resultados, conferir a dinâmica escolar. Dão como exemplo, entre outros, a questão do “fetiche do construtivismo” (2004:10): em vez de transformar esta idéia numa panacéia já vazia, seria de todo oportuno pesquisar o que ela poderia significar de pertinente. Exalta-se, então, o papel da teoria, entendida como esforço acadêmico de pinçar padrões, relações, princípios e regularidades associadas a situações, experiências e fenômenos... Teoria, como discurso científico (Demo, 1995; 2000), significa ordenar conceitualmente dinâmicas da realidade, em nome da formalização do método, produzindo uma “ordem do discurso” (Foucault, 2000). A realidade, sendo também complexa não linear (Demo, 2002), não é ordenada como o discurso. Metodologicamente falando, porém, a ciência se fia em discurso formalizado estritamente, de preferência mensurado, instituindo facilmente a “ditadura do método” (Morin, 1996; 2002). Teorias, como bem apontava Popper (1958), são artefatos interpretativos de processos mentais reconstrutivos, não expressão pura e simples da realidade formalizada. Teoria não é realidade. É apenas construção formalizada dela, para fins de manipulação científica metodicamente assegurada. Facilmente o rigor do método torna-se mais importante que a própria realidade. No entanto, qualquer crítica à teoria serve apenas para a depurar de ranços positivistas ou do teoricismo tecnicista, não para a desfazer. Todo docente precisa saber lidar com teoria, no sentido de apoio instrumental para sua prática. Por exemplo, todo alfabetizador precisa de teoria da alfabetização, cujo sentido não está nela mesma, mas na alfabetização bem sucedida da criança. Por isso, toda teoria precisa ser “crítica”, em especial para não perder de vista a “autocrítica”. Teoria não é referência eterna, mas construção sempre em andamento, pois precisa manter-se aberta a aprender sempre.
Em seguida, Lankshear e Knobel contrapõem dois pilares mais conhecidos da pesquisa docente, Stenhouse e Berthoff, seguindo uma análise de Fishman e MacCarthy (2000). Stenhouse (1975; 1985) defendia “estudos rigorosos de caso para iluminar o ensino e aprendizagem em sala de aula”, com base em documentação detalhada e esmerada, produzindo dados bem feitos. A razão maior seria questionar o próprio ensino e desenvolver alternativas inspiradas em outros aportes teóricos, outras experiências, na desconstrução da própria prática, na montagem de habilidades críticas e criativas. Embora afunilada sobre “estudos de caso”, a noção de Stenhouse alinhava-se parcialmente à expectativa acadêmica da pesquisa dominante. Já Berthoff (1987) sugeria uma noção de “re-search” (re-busca)[3], aproveitando toda experiência vigente para, reconstruindo-a, inscrevê-la em conhecimento (writing already-existing experience into knowledge) (Lankshear & Knobel, 2004:13). Via teoria como relação dialética com a prática, podendo auxiliar a avaliar o que está ocorrendo e explicar algo que funciona; ou podendo ajudar a perceber por que algo funciona e como poderia ser aprimorado; ou podendo ajudar no pragmatismo crítico (por exemplo, teoria da alfabetização precisa eclodir em alfabetização prática da criança exitosamente), sem receitas prontas. Em certa medida, a proposta de Berthoff incidiria no que hoje se diz “reconstrução da práxis”, tendo como finalidade precípua, quando se submetem as práticas ao crivo da teoria crítica, des/refazer as rotinas.
Comparando as duas visões, nota-se que há algo em comum, por exemplo, o antagonismo profundo às concepções tradicionais de práticas de pesquisa canônica, em especial a procedimentos quantitativos e cientificistas. Insiste-se que pesquisa docente precisa girar em torno de “teachers’ questions” (questões próprias do professor). Há pelo menos duas diferenças entre eles: Berthoff não aprecia o tipo de dados (estudo de caso) proposto por Stenhouse; este, embora critique a academia engessada, quer sua qualidade na pesquisa, enquanto Berthoff afasta-se disso peremptoriamente. Lankshear e Knobel lamentam que tais disputas se mantenham, causando estragos e confrontos incomunicáveis entre os professores. “Ultimamente, a divisão fundamental dentro das fileiras de docente pesquisador está entre aqueles que continuam a insistir na importância da teoria, análise e rigor que são, mesmo assim, apropriadamente concebidos e balanceados para servirem às necessidades e interesses dos que a praticam, ao invés de inflar regimes acadêmicos de verdade, e os que não querem isso” (2004:17). De um lado, estariam muitos que se bastam com pesquisa docente sem teoria, método, análise, quase como um ritual político de denúncia discursiva. Facilmente perde-se a qualidade da pesquisa, tornando-se discurso local, provinciano, além de desnecessariamente excitado. Ao final, a fuga da pesquisa mais séria deixa tudo como está, consagrando vezos escolares impróprios. Não basta coletar e colar dados, sem atentar para sua qualidade metodológica, até porque é possível perseguir os intentos da pesquisa docente sem lhe roubar a substância do que seria pesquisa. Dados e análises mal feitos comprometem tudo: i) torna-se pesquisa de segunda categoria, rebaixando ainda mais a pedagogia; ii) acaba consagrando práticas obsoletas, enfeitadas de pesquisa. De outro lado, estariam docentes que, sem perder de vista a politicidade da educação, e criticando o positivismo e o cientificismo, pretendem manter a qualidade da pesquisa, não só por compromisso metodológico, mas igualmente por compromisso com mudanças realizadas com conhecimento de causa.
Lankshear e Knobel ecoam esta segunda posição, oferecendo um tratado denso e bem conduzido de como fazer pesquisa docente, mesclando aportes quantitativos e qualitativos, sem perder a politicidade. Começam por realçar a necessidade do discurso sistemático, desde o projeto de pesquisa: bem definido, com hipótese clara e circunscrita, com teoria ao mesmo tempo aberta e formalizada, com dados bem feitos, de tal forma que análises e interpretações podem decorrer sem perda de cientificidade. Não se pode fugir a procedimentos de formalização metodológica, porque são próprios do método científico que avança por ordenamento discursivo. Mas pode-se evitar formalizações rígidas, em especial a ditadura do método. Dinâmicas qualitativas, como “aprendizagem”, podem ser formalizadas, até porque toda qualidade humana também é quantidade (Demo, 2009a). É preciso não forçar dinâmicas intensas em formalizações estreitas que acabam com a própria intensidade delas. No entanto, é primarismo imaginar que toda quantificação só pode ser mal-intencionada e mal feita[4].


II. PESQUISA DOCENTE: Introduzindo a ideia

Retornando à noção de que há menos controvérsia do que atraso, seria conveniente superar a expectativa comum de que pesquisa no docente seria algo estranho, incomum, forçado, inventado. De fato, observando a pedagogia como é comumente feita, pesquisar está fora de propósito, a começar pelos professores dos cursos: dificilmente alguém pesquisa para poder dar aula. Aula se dá sem qualquer pesquisa, porque está completamente desvinculada da produção de conhecimento. Aula é, em seu âmago, procedimento disciplinar, tal qual é vista nas “didáticas”: centrada no professor e sua autoridade, cumpre ao aluno escutar, acatar, tomar nota e devolver na prova (Demo, 2004b). Mantém-se ainda, por incrível que possa parecer, algo da visão de Kant: “Enviam-se em primeiro lugar as crianças à escola não com a intenção de que elas lá aprendam algo, mas com o fim de que elas se habituem a permanecer tranqüilamente sentadas e a observar pontualmente o que se lhes ordena, uma vez que a falta de disciplina é um mal pior que a falta de cultura, pois esta pode ser remediada mais tarde, ao passo que não se pode abolir o estado selvagem e corrigir um defeito de disciplina” (Veiga-Neto, 2001:9). É perturbador que uma figura como Kant assim pensasse. Mais perturbador é averiguar que esta atitude ainda é comum em sala de aula.
A invenção mais recente da pedagogia centrada no aluno tem, em parte pelo menos, esta finalidade, reforçada hoje ostensivamente nas plataformas da web 2.0 (Mason & Rennie, 2008), não, porém, por amor à arte, mas ao mercado (Fabos, 2004). Mesmo assim, é notório que tais plataformas facultam interatividade ampla que favorecem a autoria (Tapscott, 2009. Kilian, 2007). A lógica de que o “cliente sempre tem razão” não pode ser transportada para educação, porque, neste espaço não cabe a competitividade, mas oportunidades de aprender bem e estas possuem também qualidades técnicas próprias da formação especializada. Embora seja sempre o caso respeitar o aluno, partir dele, motivá-lo sob todos os ângulos, não cabe colocar em votação se matemática continua no currículo, não só porque seria rapidamente retirada, mas principalmente porque saber pensar implica fluência matemática também, por mais que seja, para muitos, algo penoso. Chama a atenção que a discussão sobre pesquisa docente, em geral, não é um assunto “centrado no aluno”: ele fica de fora, como se pesquisa não lhe coubesse. Aí já se vê o quanto pesquisa é mantida como lide especial, ou mesmo superior. Nas plataformas virtuais já temos o vezo contrário: qualquer coisa virou pesquisa, inclusive plagiar na internet.
Referência hoje fundamental é a da AUTORIAninguém se torna autor sem ser pesquisador. Qualquer olhar mais profundo na aprendizagem vai descobrir facilmente que um de seus horizontes mais promissores é o da autoria, como, por exemplo, decorre da “autopoiese” (Maturana, 2001. Demo, 2002), ou do “construtivismo” (Becker, 2001; 2003), ou do sócio-interacionismo (Vygotsky, 1989; 1989a). Deveria decorrer também das pedagogias críticas (Darder et alii, 2009), já que toda crítica, para ser coerente minimamente, precisa ser feita na posição de sujeito que contrapropõe, não apenas repete (Demo, 2009b). Primeiro, é quase um espanto que docentes não sejam autores (Demo, 2008a), ainda que fosse condição mais que “normal”. Se basta dar aula, para que ser autor? Esta pergunta não se coloca apenas na escola. Vale também para a universidade quase toda, em especial para a pedagogia: grande parte dos professores dá aula sem pesquisar, ou seja, sem autoria. O disparate é esse: aula sem autoria. Segue, logicamente, aluno sem autoria. Neste sentido, frente ao desafio da pesquisa há bem mais atraso do que controvérsia.

Ninguém se torna autor sem ser pesquisador

Segundo, assoma a cultura da reprodução acadêmica e escolar, começando por instituições universitárias que apenas “ensinam”. O instrucionismo é a regra, de onde surge o espanto, quando se questionam docentes que dão aula sem autoria. O professor é cunhado como reprodutor instrucionista, fiando-se na aula. Não faz o menor sentido introduzir pesquisa para aprimorar aula, porque seria enfeitar defunto. “Ensino” não há que ser aprimorado. Há que ser substituído por “aprendizagem” e centrada no aluno. Porquanto, “ser professor é cuidar que o aluno aprenda” (Demo, 2004) e isto não se faz sem autoria. Terceiro, esta aposta na autoria não pode obscurecer a discussão atual sobre suas condições hermenêuticas e tecnológicas, amplamente contestadas (Lessig, 2004. Lankshear & Knobel, 2008). Não cremos mais em autores puros, soberanos, isoladamente criativos, porque, sendo todos nós reconstruções da natureza, não existem “idéias totalmente originais”, assim como nossa mente não é propriamente original. É original no sentido subjetivo, individual, mas é elo de uma corrente que tem precedentes e conseqüentes. Esta crítica tornou-se mais clara na internet, onde predomina o “remix” (reconstrução de conteúdos já existentes) (Weinberger, 2007. Erstad, 2008) e que precisa ser distinguido do plágio. Na prática, a autoria mais comum é a “reconstrutiva”, ou seja, aquela que, partindo de conteúdos vigentes, os refaz com mão própria. No fundo, porém, não há autoria que faça mais que isso, mesmo nos gênios (Sawyer, 2007).
Ao lado da autoria, argumento soberbo é o da APRENDIZAGEMnão se aprende sem pesquisar. Bastaria observar as teorias que entendem a mente humana como máquina reconstrutiva (autopoiética), não reprodutiva. Do ponto de vista do observador, como diz Maturana (2001), não vemos a realidade como ela é, mas como a reconstruímos mentalmente, formando dela uma idéia da qual somos sujeito, não porta-vozes. A visão dita “construtivista” também aposta nisso, tornando a dinâmica da aprendizagem uma condição participativa reconstrutiva. Para aplicar pesquisa à aprendizagem da criança supõe-se, naturalmente, que se burile o conceito e a prática de pesquisa adequadamente. Prevalece aí a intenção pedagógica (pesquisa como princípio educativo), sem prejuízo da pesquisa como princípio científico, ainda que não necessariamente academicista. A criança não domina linguagem acadêmica (Lankshear & Knobel, 2008), razão pela qual seria impróprio esperar dela pesquisa canônica. Mas manifesta o espírito similar de pesquisa, quando, como alega Piaget (1973) em sua psicologia genética (Freitag, 1997), a criança em contato com a realidade vai refazendo suas “hipóteses” de como ela funciona, através de estágios que equilibram e desequilibram seu modo de a construir. Apesar da possível rigidez dos estágios piagetianos, a própria noção de “equilibração” indica condição de abertura constante a novas hipóteses, à medida que a criança avança em suas construções mentais.

Não se aprende sem pesquisar

Pode-se concluir: autoria e aprendizagem supõem pesquisa. No entanto, o desafio maior não é que o aluno pesquise. É que o professor pesquise. Daí a importância decisiva da “pesquisa docente” (Demo, 2008a). Autores como Lankshear e Knobel (2004) realçam procedimentos sistemáticos da pesquisa, com o objetivo de garantir sua qualidade acadêmica, movidos também pelos abusos da pesquisa qualitativa. Não percebem, porém, de maneira adequada que esta idéia precisa chegar ao aluno, a seu modo e sem banalizar pesquisa. Fixando-se no aprimoramento profissional dos docentes - algo em si importante, certamente - perde-se de vista a importância pedagógica da pesquisa, focando-a quase que exclusivamente como modo de produzir conhecimento. Não se pode prejudicar esta face. Mas pesquisa é dinâmica bem mais ampla e que faz parte da boa formação.

CONCLUINDO

Pesquisa é tão importante para o professor e para o aluno, que não se pode colocar como algo ligeiro ou incomum. Exige esmero de análise e definição, seja para evitar dizer que qualquer coisa é pesquisa, ou que pesquisa é algo do outro mundo, inatingível para os mortais. Esta visão implica, naturalmente, uma revisão profunda do perfil docente, bem como de sua formação original, hoje empapada em instrucionismo voraz. Aluno aprende bem com professor que aprende bem (Demo, 2009c) e para tanto saber pesquisar é uma das garantias mais eficazes, ainda que não automática. Embora pesquisa coloque sobre os ombros docentes ainda mais responsabilidades, no fundo é maneira densa de valorizar os professores, no sentido de que tenham oportunidades efetivas de aprender bem, tornarem-se autores, realizarem espírito crítico e autocrítico de qualidade.
Na terra da “apostila”, que, mesmo freqüentemente bem feita, é “fórmula pronta” para ser bengala de professor instrucionista, pesquisa parece algo estranho ou exigência fora de lugar. A falta de vinculação com pesquisa desvela que não temos noção minimamente adequada com estudo (Demo, 2008b): não sabemos, nem gostamos de estudar. Precisamos urgentemente inventar isso.

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[1] Esta visão metodológica é chamada em lógica de “modus tollens” (modo que nega), porque teorias podem apenas ser falsificadas, não verificadas. A coleta de todos os casos empíricos subsumidos pela teoria é impraticável (regressão ao infinito), mas basta um caso negativo para falsificar (pelo menos em parte) a teoria (Demo, 1995).
[2] Literalmente, “tanque de pensamento”: um laboratório de pensamento movido por crítica e pesquisa.
[3] Berthoff aproveita um trocadilho: research (pesquisa) é uma palavra composta de “re” e “search” (busca): donde segue pesquisa como “re-busca”.

[4] Vale lembrar a posição de Adorno (Teoria Crítica): “minha opinião própria na controvérsia entre sociologia empírica e teórica... poderia ser sumariada dizendo que as pesquisas empíricas não são apenas legítimas, mas essenciais, mesmo no âmbito de fenômenos culturais; mas não se deve conferir autonomia a elas ou vê-las como chave universal; acima de tudo, precisam concluir seu labor teórico, já que teoria não é mero veículo que se torna supérfluo, logo que os dados estiverem disponíveis” (apud Giroux, 2009:35).